Estupro Mental

O assédio sexual sempre fez parte da história do mundo, desde a mais tenra idade, o assédio sexual tem ligação primordial com a discriminação da mulher pelo homem em decorrência do poder que este exerce sobre ela.

A noção de assédio sexual, só ficou clara após a década de 60 com a revolução dos costumes e também a revolução sexual, pois foi a partir dessa época que se começou a discutir mais abertamente a questão sexual nos meios de comunicação, na escola e no trabalho, sendo que a própria expressão assédio sexual só foi cunhada nos anos 70, nos Estados Unidos da América.

Conceitua-se assédio sexual como toda tentativa, por parte do empregador ou de quem detenha poder hierárquico sobre o empregado, de obter dele favores sexuais, através de condutas reprováveis, indesejadas e rejeitadas, com o uso do poder que detém como forma de ameaça e condição de continuidade no emprego, ou quaisquer outras manifestações agressivas de índole sexual com o intuito de prejudicar a atividade laboral da vítima, por parte de qualquer pessoa que faça parte do quadro funcional, independentemente do uso do poder hierárquico.

O assédio sexual por se revelar por dois meios:

a) assédio sexual por chantagem, que caracteriza-se por uma situação no qual um empregado é obrigado a escolher entre ceder a favores sexuais de seu superior, ou perder algum benefício decorrente de seu trabalho;

b) assédio sexual por intimidação, que caracteriza-se por incitações sexuais inoportunas, solicitações sexuais ou outras manifestações da mesma índole, verbais ou físicas, com o efeito de prejudicar a atuação de uma pessoa ou de criar uma situação ofensiva, hostil, de intimidação ou abuso no ambiente em que é intentado.

Principais vítimas de assédio sexual:

- preferencialmente aquelas pessoas com menores poderes
- mulheres, empregados subalternos, pessoas negras, com orientação homossexual ou que pertencem às camadas mais pobres da população.
- pessoas que já são discriminadas por serem consideradas o “outro”, o “diferente” e “inferior”, nas relações sociais.

As vítimas evitam denunciar por:

- medo de retaliações ou de perda de emprego;
- risco de rebaixamento de cargo;
- medo de assédio moral em conseqüência da denúncia;
- vergonha e temor de serem responsabilizadas pelo abuso por condutas consideradas “provocadoras” e “insinuantes”.

Algumas consequências do assédio sexual:

- abuso de drogas e álcool;
- tabagismo;
- comportamento sexual de risco;
- inatividade física;
- compulsão alimentar;
- stress pós-traumático;
- depressão, ansiedade;
- fobias e pânico;
- disfunção sexual;
- baixa auto-estima;
- entre outros.

Alguns devem estar perguntando o porque de Estupro Mental em um texto sobre assédio sexual. Eu explico através de uma breve história.

Como toda adolescente, eu também tinha um sonho, conseguir um trabalho e dele adquirir tudo aquilo que via na TV, nos livretos da "avon", nas revistinhas femininas... mas que minha família não tinha condições de me ofertar.
Folheando o jornal de domingo, ao passar os olhos sobre um anúncio simples, sem negrito, fiquei estática... essa era a oportunidade com que sempre sonhei... ser secretária, pois no anúncio dizia sem experiência.

Fiz um currículo, ajeitei os cabelos longos, fiz uma prece e sai toda serelepe em direção ao estabelecimento indicado no anúncio.

Chegando lá, levei um susto! a fila era quilométrica, imediatamente veio aquele pensamento desanimador de não vou conseguir!... respirei fundo e segui em frente, porque o emprego exigia trabalhar aos finais de semana e feriados, com uma folga semanal, então pensei, quem vai aceitar...só eu é claro. Realizei a entrevista tremendo, mas respondi todas as perguntas, tentando transparecer calma.

Após dois dias de muita ansiedade, eis que toca o telefone confirmando que eu havia sido escolhida. Foi um dos melhores acontecimentos da minha vida até aquele dia.

Os meses foram passando sem nenhuma anormalidade, sendo que aprendia mais a cada dia. Em uma manhã, o coordenador do setor, veio com uma conversa sobre a sua enteada, que viria morar com ele e não tinha emprego. Achei estranha aquela conversa, pelo fato do mesmo ser muito reservado e em todos os meses de trabalho ele nunca disse uma palavra sobre a família.

Algumas semanas depois, meu patrão me chamou até sua sala de uma maneira não habitual, não olhou nos meus olhos e o tom da voz era trêmula. Pediu para que eu sentasse e foi logo "disparando a metralhadora".

- "É o seguinte; você sabe que o seu supervisor está a procura de uma vaga para a enteada e pelo fato de conhecê-lo há tantos anos eu me sinto na obrigação de atendê-lo, mas não antes de lhe fazer uma "oferta".

Neste momento, deu um frio estranho na minha coluna, as pontas dos dedos gelaram só de imaginar o que viria...

-Sempre que você que entrava na minha sala, eu ficava imaginando como seria nua. Corpo infantil, atitude de adulta, isto me deixava com pensamentos alucinantes. Então a coisa a fazer para garantir o seu emprego é simple; deixe eu apertar os seus "limõenzinhos" de vez em quando e tudo permanecerá como está.

Aquelas palavras soaram como uma bomba para mim, tive a sensação de ser a pior pessoa do mundo. Ter o meu primeiro emprego garantido através de "favores"...

Olhei fundo naqueles olhos desprezíveis e soltei um sonoro NÃO. Sai da sala cabisbaixa, sem rumo, segurando a todo custo o choro...

Logo na manhã seguinte, minha carteira profissional estava sobre o balcão do estabelecimento e a ordem era para que não permitissem meu acesso às instalações.

Como dizem, "enfiei a violinha no saco" e fui para casa. Confesso que aliviada. Antes um emprego do que a minha dignidade. Não contei o fato para ninguém, preferi guardar aquilo como algo que nunca tivera acontecido.

Depois de mais ou menos 15 anos, já formada, ouvi sem querer a seguinte expressão: "ela não é essencial, ela não é cama, mesa e banho é apenas profissional". Advinhem de quem eles estavam falando?...

Mais uma vez o destino me passando uma rasteira, o mesmo fato acontecendo e pelo mesmo motivo - uma "vaga" por favores.

Foi o estopim... explodi, todo o passado, tudo aquilo que levei anos para superar veio a tona novamente.

Entrei em depressão, tive síndrome do pânico, tentei suicídio... mas desta vez eu me abri, como dizem, joguei mer...a no ventilador. O culpado foi punido. Mas ficou mais uma cicatriz.

E hoje, sempre que ouço alguma conversa, mesmo que de brincadeira, ainda vem aquela sensação...frio na coluna, dedos gelados e sensação de impotência.

Para mim não foi assédio sexual, foi um Estupro Mental, porque com certeza, isto irá me acompanhar por toda a minha vida.

(autor: TMM)

4 comentários:

Consultor Previdenciário disse...

Infelizmente o assédio sexual é um crime silencioso e muitas vitimas não denunciam e por isso os criminosos continuam agindo.
Você tem razão mesmo que não ocorra o fato físico o dado mental é enorme.
Parabéns por esta excelente postagem.

Anônimo disse...

Pois é Tãnia este é um assunto que as famílias tem que tomar muito cuidado. As maiores vítimas são as crianças e geralmente o assédio se dá dentro da própria casa com parentes e pessoas muitos conhecidas.
Ontem estava lendo na Época desta semana sobre o caso da nadadora Joana Maranhão. É um caso estarrecedor e que causa traumas para o resto da vida na criança.
Muito oportuna sua matéria. Obrigado pela visita no http://Imigrantes Brasil.blogspot.com e fiquei feliz de poder te influenciar para fazer sua documentação da "Dupla Cidadania Italiana".
Com este sobrenome você consegue, é bem italiano...
Parece que não somos parceiros, ainda?
Estou levando seu link para meu blog.... Abraços e sucesso...

Anônimo disse...

Querida Tânia, muito relevante este seu post, quanto mais pessoas bem informadas será (penso que sim) mais fácil combater este tipo de prática que classifico com hediondo, uma vez que quem age assim comete terrorismo que afeta a vida de uma pessoa para toda a vida.
Infelizmente existe também o crime de assédio moral, que hoje em dia está sendo muito praticado também.
Que DEUS vos (Tânia e Sandra) abençoe, hoje e sempre.
Saúde e sucesso!
Bjoks,
Moura
meioambiente.blogomoura.com

Andréia Sant'Anna disse...

Oi Tânia!
Eu também passei por isso com o meu primeiro trabalho (na época, eu tinha 17 anos), não cheguei ouvir palavras tão porcas quanto as que vc ouviu, mas ouvia muito indiretas nogentas.
Mas o que me fez esquecer e sair por cima, foi que eu reagi, e antes das indiretas chegarem a ser diretas e porcas, eu começei a responder de acordo, e não esperei ser mandada embora, eu pedi pra ser demitida; contei pra minha mãe, e quando fui acertar tudo e receber, eu fui com ela, e fizemos o maior escândalo, e através desse ato, a mulher e a filha (que era da minha idade) do porco nogento, ficaram sabendo.

Nós mulheres temos que reagir, temos que denunciar, temos que processar, e não precisamos ter vergonha, quem tem que ter vergonha são eles, esses porcos nogentos.

Fiquei nervosa, agora!!! só de lembrar daquele imundo; acho que eu devia ter feito mais coisas, principalmente porque eu era de menor. Aí que ódio!!!
Bjos

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